domingo, 27 de novembro de 2011

# Relação do português com as línguas autóctones angolanas

A adoção da língua do antigo colonizador como "língua oficial"  em Angola deu-se o fato pouco comum de uma intensa disseminação do português entre a população angolana, a ponto de haver uma expressiva parcela da população que tem como sua única língua aquela herdada do colonizador.
Entre 1620 e 1750 o kimbundu afirmou-se como a língua mais usada em praticamente todos os lares de Luanda e na vida diária da cidade. O estabelecimento de uma elite afro-portuguesa — que ocupava os principais cargos da administração pública e estava envolvida no tráfico de escravos — foi o fator que mais contribuiu para esta situação. Embora tivesse um bom conhecimento de português, esta elite era falante nativa de kimbundu ou kikongo.
Entre 1750 e 1822, os portugueses procuraram impedir a crescente africanização, cultural e linguística, da elite afro-portuguesa de Angola, nomeadamente através do decreto de 1765 do governador Francisco Inocêncio da Sousa Coutinho, que desencorajava o uso de línguas africanas na educação das crianças.
Só durante o século XX é que o português se tornou gradualmente a língua mais falada nas áreas urbanas de Angola. Este fato ficou a dever-se, essencialmente, ao aumento do número de colonos portugueses, tanto homens como mulheres, a maioria dos quais preferia fixar-se nos centros urbanos costeiros, em detrimento das zonas do interior.
Para se tornarem “cidadãos ” os angolanos tinham que prestar provas: ser católico praticante (outra imposição marcante durante a colonização), dormir numa cama, ter o exame da quarta classe, falar bem português, ter só uma mulher, comer com garfo e faca, isto é, ter costumes “europeus exemplares”.  Assim se impôs a língua portuguesa, através de redes de pequenos colonizadores, nas cidades e nos campos.
Apesar de ser um processo impositivo, a adoção do Português como língua de comunicação corrente em Angola propiciou também a veiculação de ideias de emancipação em certos setores da sociedade angolana, facilitando a comunicação entre pessoas de diferentes origens étnicas. O período da guerra colonial foi o momento fundamental da expansão da consciência nacional angolana. De instrumento de dominação e clivagem entre colonizador e colonizado, o português adquiriu um carácter unificador entre os diferentes povos de Angola.

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